Após a análise histórica do artigo anterior, a nossa série sobre a moderna teoria de carteiras e análise de investimentos fala hoje da teoria da utilidade. Isso porque um dos objetivos centrais e também foco de uma grande preocupação nas áreas relacionadas a Finanças está em entender e estudar como um determinado investidor, ou grupo de investidores, poderiam melhor escolher e determinar a composição de seus investimentos. Isto, é claro, com base na decisão de se analisar essas combinações pela ótica dos riscos em jogo e dos retornos esperados.
Seguindo com este raciocínio, determinado investidor, ou grupo de investidores, pode fazer suas escolhas para a composição da sua carteira de investimentos escolhendo entre os retornos esperados destas carteiras ou o risco apresentado por elas. Dessa forma, seguirá o mesmo modelo de escolha que um consumidor final pode fazer entre determinadas mercadorias ou serviços.
A curva de satisfação
Podemos citar, por exemplo, o que apresentaram Ribeiro Neto e Fama (2004), no qual determinado consumidor pode escolher entre possuir 10 unidades de produtos voltados a alimentação e 15 produtos voltado a vestuário, ou 5 produtos voltados a alimentação e 20 produtos voltados a vestuário.
Assim, poderia-se usar das conhecidas curvas de indiferença, via abordagem gráfica, para representar as combinações dos conjuntos dos produtos que vão gerar os níveis de satisfação das preferências dos consumidores/investidores.
Ribeiro Neto e Fama desenvolveram uma curva que buscou, em resumo, descrever a preferências dos consumidores em relação às combinações possíveis dentre determinados produtos existentes. Tal curva foi apresentada como um mapa de indiferença. Desse modo, podemos notar que determinado consumidor prefira a curva ou a combinação que contemple as melhores combinações possíveis entre o maior número de produtos. (Ribeiro Neto e Fama, 2004, p. 1-16).
A teoria da utilidade
Poderíamos também entender e mensurar as preferências dos consumidores por meio da curva de utilidade. Ela apareceu pela primeira vez na lei de utilidade marginal decrescente. Apresenta-se como um conceito denotado da satisfação, ou seja, ao passo em que se aumenta o estado de satisfação de um determinado indivíduo, via escolha, o valor referente à utilidade marginal decrescente tende a aumentar. Por outro lado, em casos contrários, uma má escolha tende a diminuir o nível de satisfação deste mesmo indivíduo. Com isso, também diminui o nível da utilidade marginal decrescente.
Seguindo este conceito, as escolhas podem se originar devido ao maior nível de utilidade, em nosso exemplo, de cada produto. Assim, conseguimos entender por que um produto, com o mesmo valor para todos os outros indivíduos, não é a escolha de todos. Ou seja, a utilidade atribuída a determinado produto se difere de indivíduo para indivíduo.
Aplicação no mundo dos investimentos
Relacionando estes conceitos aos investidores, todo o processo de escolha de uma determinada carteira se baseia na busca de um retorno mais expressivo. Ao mesmo tempo, se baseia também em um amplo controle de seu risco. Ribeiro Neto e Fama (2004, p. 1-16), nos apresentam uma separação entre três grupos e suas determinadas escolhas em relação ao risco.
De acordo com as informações acima, notamos que existe determinado grupo de investidores que apresenta determinada características:
Aversão ao risco: neste grupo estão investidores que dão um alto valor à segurança em suas aplicações. Portanto, para se arriscarem, estes investidores exigem um retorno bastante elevado. Este grupo apresenta uma alta inclinação em sua curva de utilidade.
Indiferença ao risco: neste grupo estão os investidores que aceitam de forma mais natural os riscos presentes dentro de uma determinada carteira. Buscam um retorno, que pode variar entre médio e alto, para se arriscarem dentro de um determinado percentual de risco. Podemos notar pelo gráfico da curva de indiferença que neste grupo a curva já não segue a mesma tendência de alta apresentado no grupo anterior.
Tendência ao risco: neste grupo estão os investidores que buscam maximizar os seus investimentos. Em outras palavras, este grupo dá mais valor ao retorno esperado do que ao risco. Este grupo, ao contrário dos demais, aceita altas taxas de risco, pois está mais interessados no retorno expressivo das suas aplicações. Neste grupo, podemos notar uma curva de indiferença com uma menor inclinação.
A importância da teoria da utilidade no dia a dia
Em todo o processo de elaboração de carteiras otimizadas de investimentos, dentre os pontos citados acima, a teoria da utilidade se apresenta como, além de um fator de extrema importância, um ponto fundamental nas tomadas de decisões que se dizem respeito sobre os ativos a serem escolhidos e os perfil de cada grupo de investidor.
Todos estes estudos estão intrinsecamente ligados ao projeto de elaboração de carteira. Deixar de lado estes conceitos é entrar em um universo de desconhecimento da capacidade de risco aceitável por parte do investidor. Assim, qualquer elaboração de carteira estaria totalmente fora da realidade do investidor. Sem dúvida, isso levaria a desgaste e perda de confiança do investidor em seus consultores ou gestores.
Nos vemos na próxima e até mais.